Tal como a história narrada pelo Zénite, também a do Francisco del Mundo tem mais de um episódio, neste caso dois.
Deixo-vos hoje o 1º, espero que se deliciem a lê-lo!
Reencontro...I
Aquele era o hotel das suas escapadelas. Não com outras mulheres, porque tinha sempre sido fiel. Era o seu refúgio quando o casamento e os três filhos exigiam demasiado dele. Bastavam-lhe dois ou três dias para que pudesse regressar à rotina dos dias, de todos os dias. Não mentia à mulher, dizia-lhe que ia passar uns dias fora, e agradecia que ela compreendesse. Aliás, era uma rotina que ambos praticavam e que tinha feito com que a união de 15 anos se tornasse mais segura. Mas esta vez tinha algo de diferente. Ela tinha saído de casa dois dias antes. Tinha partido com um olhar estranho. Como se algo estivesse em risco. Eram proibídos os contactos entre eles durante esse período. As regras eram conhecidas. Mas ele não estava a aguentar ficar em casa com esta incerteza. Pediu então à mãe que tomasse conta dos netos por uns dias e partiu para o seu hotel. Precisava de um certo sossego para pensar no seu futuro. No futuro deles.
Chegou ao início da tarde. Em Setembro o calor ameno, sem vento, convidava mesmo a uns dias de férias. O gerente, velho conhecido, saudou-o com o sorriso de quem vê chegar um amigo.
- Quer o quarto do costume, senhor doutor?
- Já me conhece. Sou uma criatura de hábitos.
- Nunca se sabe o futuro. – retorquiu o homem atrás do balcão.
Aquela frase, naquela conjuntura, obrigou-o a pensar. Será que tinha chegado a um ponto de viragem? Em todos nós há um momento em que questionamos se somos felizes ou não. Ele sentia que era feliz. Depois pensou se se sentia completo. E aí vacilou. Sim, tinha casado com a mulher que amava. Sim, tinha arranjado um belo emprego. Sim, a vida corria-lhe bem. Mas... faltava algo. Faltava o elemento surpresa. Faltava o inesperado. Faltava sentir-se vivo.
Seguiu até ao quarto em que ficava sempre. Virado para a serra e com a piscina uns metros abaixo. Pensou em dormir um pouco, mas a espreguiçadeira do exterior estava convidativa. Pediu um toalha na recepção e, com o livro debaixo do braço, seguiu para a piscina. Pouca gente. Uma família com dois filhos pequenos, um casal de idosos, e uma silhueta feminina à distância. Tinha vindo para descansar e por isso estendeu-se a ler o seu livro. Deitado de barriga para baixo, em breve caiu num sono profundo. Passaram algumas horas e o sol já fugia quando acordou. Alguns metros ao seu lado, seguindo para o hotel, a figura feminina caminhava. Deveria ter a sua idade, mas o biquini cor de rosa na pele morena fazia sobressair o corpo firme de uma bela mulher. Sentiu uma erecção e não pode deixar de sorrir.
- Ah, meu velho, não sabes que viemos em descanso! – pensou, baixando os olhos.
Decidiu dar um mergulho, aproveitando os últimos raios de sol. Ali, debaixo de água, sentia um relaxamento incomparável. Dizia o seu signo que o seu elemento é o fogo, mas sempre foi na água que se sentia em casa. Prolongou de tal forma o banho que quando saiu, o ar frio da noite o gelou. Correu até ao quarto, respondendo com um sorriso às piadas dos empregados. Tomou um duche demorado. Ao sair, olhou para o espelho. Já não o fazia há muito tempo. Quarenta e dois anos de idade. Para trás tinha ficado a magreza que o caracterizou durante anos. Tinha agora um físico robusto e cuidado. Não era narcisista mas gostava de ver o corpo em boa forma. Como a mulher da piscina. Mais uma vez, o calor do seu pensamento acordou o seu pénis. Soltando uma gargalhada, olhou-se no espelho e exclamou:
- Mas tu hoje estás doido! Vamos lá vestir a ver se encontramos a razão da tua loucura.
Vestiu-se e perfumou-se. Calçou-se e penteou-se. Deu por si a preparar-se como se fosse para um encontro. Abanou a cabeça. Estava assim por uma pessoa que só tinha visto de costas. Desceu pelo elevador e encaminhou-se para a sala de jantar. Sentou-se na sua mesa de sempre e só depois reparou na misteriosa mulher. Mais uma vez ela estava de costas, com um vestido decotado que deixava ver umas costas morenas e bem definidas. Os cabelos compridos caíam sobre os ombros. Era sem dúvida uma figura atraente, mesmo sem ter visto o rosto. O empregado costumeiro aproximou-se e entregou-lhe a lista.
- Recomendo-lhe o bacalhau com natas.
- Confio, como sempre. Diga-me uma coisa, quem é aquela bela figura na mesa do canto?
- É uma hóspede habitual. O senhor nunca a tinha encontrado? – perguntou surpreso.
- Não, estou certo que me lembraria.
- É uma senhora casada, mas que aparece sempre sozinha. – esclareceu cúmplice.
- Olhe, é como eu. – sorriu.
- Exactamente. Como o senhor doutor. – disse com um sorriso levemente malicioso, enquanto rodava para a cozinha.
Casada. Nem tinha pensado nessa possibilidade. E na verdade, não fora o aviso do empregado e tinha-se esquecido do próprio estado civil. Mas porquê?! O que se passava com ele para se abstrair de tal forma da realidade? Começava a recear estar a perder o contacto com a sua vida quotidiana. Ou seria apenas uma fase normal da vida de um casamento? A vida não traz livro de instruções, mas um homem precisa de indicações. Ou será que é mesmo assim, às cegas, que se constrói o caminho? Já tinha ouvido falar das crises de meia-idade mas sempre lhe pareceu algo que aconteceria apenas aos outros. Nunca lhe apeteceu comprar um carro desportivo ou ter mulheres mais novas. Aliás, era uma mulher da sua idade que o tinha despertado naquele dia. Levantou os olhos em direcção a mesa dela e ela já não estava lá.
- Raios! – pensou – Ponho-me aqui a pensar e nem olho o que se passa à minha volta. Ao menos tinha visto se é bonita ou não.
Entretanto chegou a comida e decidiu apreciar apenas a comida. Sem pensar em mais nada…
Quando acabou o jantar, vacilou entre ir para o quarto ou dar um salto ao bar. Não que tivesse muita vontade, mas a simpatia contagiante que o barman tinha, obrigava-o a ir cumprimentá-lo. Caminhou devagar. A digestão do alimento e do pensamento obrigava-o a isso. Entrou no bar e logo viu o sorriso enorme do homem que sabia tanto de bebida como da vida. Teria os seus cinquenta e muitos, sessenta anos. Tinha uma vitalidade à prova de bala e, à medida que se aproximava do balcão, podia confirmar, um aspecto invejável.
- Grande William! – o verdadeiro nome era Guilherme mas o seu aspecto britânico e a sua paixão exclusiva ao whisky William Lawson, fazia com que os clientes o tratassem assim.
- Senhor doutor, que bela surpresa! Sou um homem de sorte hoje. – respondeu, estendendo a mão enorme mas delicada de quem manobra copos e garrafas.
- Não é caso para tanta euforia, a minha presença. – fingiu, agradado por ser tão bem acarinhado.
- A sua presença é sempre uma festa mas tenho a sorte de ter os meus clientes favoritos ao mesmo tempo. Creio que isso nunca aconteceu.
- Ah, então não sou razão única. – deliciado por fazer parte de um grupo selecto de clientes favoritos.
- Doutor, o senhor vem cá há quantos anos? Uns dez, não?! É o homem com quem mais me agrada conversar. Tem uma visão do mundo mais alargada que a maioria. É um optimista por natureza. É o azul do mundo. – explicou, enquanto servia a bebida que ele queria sem nada perguntar – Mas existe uma cliente favorita. Uma mulher belíssima. Por dentro e por fora. É ela que me dá a visão do mundo que não consigo ter e que nem mesmo o doutor me dá: a visão rosa do mundo. Tem um pessimismo suave de quem espera o pior apenas porque deseja o melhor. Para si mesma e para os outros. E ela está cá hoje também.
- Ah, mas onde está essa parceira deste duo? - brincou.
- Esteve aqui! Tomou um café, foi dar uma volta pelo parque e prometeu que voltava para uma conversa. – incrível como conseguia manter a conversa enquanto atendia os outros clientes com esmero.
- Não me digas que é uma mulher com a minha idade, que hoje está com um vestido preto sem costas? – perguntou, não tendo dúvida que a resposta seria afirmativa.
- Exacto. Já a conhece? – sorriu William.
- Confesso que até agora só lhe conheci as costas. – riu.
- Ah, ah! Bem sei que se deve conhecer as pessoas aos poucos, mas isso é exagero. – riram em conjunto.
- Creio que é a primeira vez que a vejo aqui.
- Tenho a certeza disso. Não me esqueceria de ter os dois aqui ao mesmo tempo. Permita-me que diga que tenho sido o confidente de ambos. Têm os dois os problemas normais de casados, coisa que já fui e por isso sei do que falo. E de resto, toda a gente sabe que os barmen têm que saber ouvir tão bem como servir bebidas. – confessou.
- De facto, as nossas conversas tem sido um belo suporte a minha sanidade mental. E desculpa se te tenho aborrecido. – respondeu.
- Não tem nada que pedir desculpa. Há pessoas que ouço por cortesia, mas a si ouço por prazer. – via-se que estava a ser sincero.
- Meu bom amigo, ouvir isso é fantástico! Até porque isto não está fácil. – disse com uma sombra no olhar.
- Claro, o senhor doutor só aqui me aparece quando não está bem. – riu, abrindo um sorriso de conforto.
- Ah, ah! És o meu psiquiatra. Esta cadeira é o divã. E a medicação é esta bela bebida que me serves. – era impossivel estar triste na presença daquela personagem terapêutica.
- Mas diga lá o que o apoquenta. – assumindo a pose de quem vai ouvir.
- O mesmo, mas diferente. Precisei de uma pausa da realidade do dia a dia, mas não sei se desta vez não estou a pôr tudo em causa. Tenho tudo o que preciso para ser feliz e ainda assim sinto que falta algo. Falta emoção, falta novidade…
- Hummm… - assentiu, sabendo que ainda não era tempo de falar.
- Amo a minha mulher, disso não tenho dúvidas. Mas não sei se é o suficiente. – concluiu.
- Lembra-se das razões porque casou? – era uma pergunta que adivinhava muitas outras.
- Claro que sim. Amava-a. Queria ter uma vida com ela. Queria ter filhos com ela. Ela bastava-me. Só a via a ela. - estava tudo nítido na sua cabeça.
- Vejo que se lembra de tudo. Pois bem, então o que mudou? Deseja outra pessoa? – começava a encurralá-lo.
- Não sei. Acho que desejo algo novo. Por exemplo, aquele mulher que falaste há pouco. Só a vi de costas na piscina e ao jantar, mas senti desejo em conhecê-la. – as confissões surgiam naturalmente.
- Sem lhe ver o rosto. – constatou, sem nada perguntar – Meu caro amigo, essa ânsia de algo novo não é estranha. – sentia que o barman embalava agora – Essa mesma mulher de que fala está na mesma fase. Um casamento longo, vivido, bom. Tudo parece perfeito, mas falta algo. É a rotina que se instala. Esse bicho-da-madeira das relações. Tem de se lutar contra ele. Essas pausas que o senhor e essa mesma senhora fazem não chega. É uma fuga, não uma solução. As coisas não se resolvem com pausas ou tempos para pensar. Isso são adiamentos. Necessários mas que nada resolvem. Há quanto tempo o doutor e a sua esposa não fazem umas férias sozinhos? – perguntou certeiro.
- Há quinze anos! Desde que nasceu o primeiro filho. – respondeu, apercebendo-se do ponto onde William queria chegar.
- Pois! Bem sei da importância dos filhos num casamento, mas as pessoas não se podem esquecer de que é preciso alimentar a relação a dois. Se a mulher que viu na piscina lhe suscitou algo, pode não ter sido aquela mulher específica, mas por ser alguém diferente.
- Talvez, mas ela tinha alguma coisa que me chamou a atenção.
- Meu caro, apenas lhe viu as costas. Posso-lhe dizer que é uma bela mulher para ser descoberta. Gostaria de descobri-la? – sorriu.
- William, eu não vim aqui para trair a minha mulher. Vim para me encontrar. Para descobrir o que se passa comigo. O que se passa connosco!
- De acordo, mas acredito que descobrindo essa mulher mistério, lhe seja mais fácil saber o que sente. Seja como for, pouso aqui ao seu lado a bebida que ela bebe, porque ela vem aí. – enquanto dizia isto, sorria a alguém que se aproximava – Agora é convosco…
Chegou ao início da tarde. Em Setembro o calor ameno, sem vento, convidava mesmo a uns dias de férias. O gerente, velho conhecido, saudou-o com o sorriso de quem vê chegar um amigo.
- Quer o quarto do costume, senhor doutor?
- Já me conhece. Sou uma criatura de hábitos.
- Nunca se sabe o futuro. – retorquiu o homem atrás do balcão.
Aquela frase, naquela conjuntura, obrigou-o a pensar. Será que tinha chegado a um ponto de viragem? Em todos nós há um momento em que questionamos se somos felizes ou não. Ele sentia que era feliz. Depois pensou se se sentia completo. E aí vacilou. Sim, tinha casado com a mulher que amava. Sim, tinha arranjado um belo emprego. Sim, a vida corria-lhe bem. Mas... faltava algo. Faltava o elemento surpresa. Faltava o inesperado. Faltava sentir-se vivo.
Seguiu até ao quarto em que ficava sempre. Virado para a serra e com a piscina uns metros abaixo. Pensou em dormir um pouco, mas a espreguiçadeira do exterior estava convidativa. Pediu um toalha na recepção e, com o livro debaixo do braço, seguiu para a piscina. Pouca gente. Uma família com dois filhos pequenos, um casal de idosos, e uma silhueta feminina à distância. Tinha vindo para descansar e por isso estendeu-se a ler o seu livro. Deitado de barriga para baixo, em breve caiu num sono profundo. Passaram algumas horas e o sol já fugia quando acordou. Alguns metros ao seu lado, seguindo para o hotel, a figura feminina caminhava. Deveria ter a sua idade, mas o biquini cor de rosa na pele morena fazia sobressair o corpo firme de uma bela mulher. Sentiu uma erecção e não pode deixar de sorrir.
- Ah, meu velho, não sabes que viemos em descanso! – pensou, baixando os olhos.
Decidiu dar um mergulho, aproveitando os últimos raios de sol. Ali, debaixo de água, sentia um relaxamento incomparável. Dizia o seu signo que o seu elemento é o fogo, mas sempre foi na água que se sentia em casa. Prolongou de tal forma o banho que quando saiu, o ar frio da noite o gelou. Correu até ao quarto, respondendo com um sorriso às piadas dos empregados. Tomou um duche demorado. Ao sair, olhou para o espelho. Já não o fazia há muito tempo. Quarenta e dois anos de idade. Para trás tinha ficado a magreza que o caracterizou durante anos. Tinha agora um físico robusto e cuidado. Não era narcisista mas gostava de ver o corpo em boa forma. Como a mulher da piscina. Mais uma vez, o calor do seu pensamento acordou o seu pénis. Soltando uma gargalhada, olhou-se no espelho e exclamou:
- Mas tu hoje estás doido! Vamos lá vestir a ver se encontramos a razão da tua loucura.
Vestiu-se e perfumou-se. Calçou-se e penteou-se. Deu por si a preparar-se como se fosse para um encontro. Abanou a cabeça. Estava assim por uma pessoa que só tinha visto de costas. Desceu pelo elevador e encaminhou-se para a sala de jantar. Sentou-se na sua mesa de sempre e só depois reparou na misteriosa mulher. Mais uma vez ela estava de costas, com um vestido decotado que deixava ver umas costas morenas e bem definidas. Os cabelos compridos caíam sobre os ombros. Era sem dúvida uma figura atraente, mesmo sem ter visto o rosto. O empregado costumeiro aproximou-se e entregou-lhe a lista.
- Recomendo-lhe o bacalhau com natas.
- Confio, como sempre. Diga-me uma coisa, quem é aquela bela figura na mesa do canto?
- É uma hóspede habitual. O senhor nunca a tinha encontrado? – perguntou surpreso.
- Não, estou certo que me lembraria.
- É uma senhora casada, mas que aparece sempre sozinha. – esclareceu cúmplice.
- Olhe, é como eu. – sorriu.
- Exactamente. Como o senhor doutor. – disse com um sorriso levemente malicioso, enquanto rodava para a cozinha.
Casada. Nem tinha pensado nessa possibilidade. E na verdade, não fora o aviso do empregado e tinha-se esquecido do próprio estado civil. Mas porquê?! O que se passava com ele para se abstrair de tal forma da realidade? Começava a recear estar a perder o contacto com a sua vida quotidiana. Ou seria apenas uma fase normal da vida de um casamento? A vida não traz livro de instruções, mas um homem precisa de indicações. Ou será que é mesmo assim, às cegas, que se constrói o caminho? Já tinha ouvido falar das crises de meia-idade mas sempre lhe pareceu algo que aconteceria apenas aos outros. Nunca lhe apeteceu comprar um carro desportivo ou ter mulheres mais novas. Aliás, era uma mulher da sua idade que o tinha despertado naquele dia. Levantou os olhos em direcção a mesa dela e ela já não estava lá.
- Raios! – pensou – Ponho-me aqui a pensar e nem olho o que se passa à minha volta. Ao menos tinha visto se é bonita ou não.
Entretanto chegou a comida e decidiu apreciar apenas a comida. Sem pensar em mais nada…
Quando acabou o jantar, vacilou entre ir para o quarto ou dar um salto ao bar. Não que tivesse muita vontade, mas a simpatia contagiante que o barman tinha, obrigava-o a ir cumprimentá-lo. Caminhou devagar. A digestão do alimento e do pensamento obrigava-o a isso. Entrou no bar e logo viu o sorriso enorme do homem que sabia tanto de bebida como da vida. Teria os seus cinquenta e muitos, sessenta anos. Tinha uma vitalidade à prova de bala e, à medida que se aproximava do balcão, podia confirmar, um aspecto invejável.
- Grande William! – o verdadeiro nome era Guilherme mas o seu aspecto britânico e a sua paixão exclusiva ao whisky William Lawson, fazia com que os clientes o tratassem assim.
- Senhor doutor, que bela surpresa! Sou um homem de sorte hoje. – respondeu, estendendo a mão enorme mas delicada de quem manobra copos e garrafas.
- Não é caso para tanta euforia, a minha presença. – fingiu, agradado por ser tão bem acarinhado.
- A sua presença é sempre uma festa mas tenho a sorte de ter os meus clientes favoritos ao mesmo tempo. Creio que isso nunca aconteceu.
- Ah, então não sou razão única. – deliciado por fazer parte de um grupo selecto de clientes favoritos.
- Doutor, o senhor vem cá há quantos anos? Uns dez, não?! É o homem com quem mais me agrada conversar. Tem uma visão do mundo mais alargada que a maioria. É um optimista por natureza. É o azul do mundo. – explicou, enquanto servia a bebida que ele queria sem nada perguntar – Mas existe uma cliente favorita. Uma mulher belíssima. Por dentro e por fora. É ela que me dá a visão do mundo que não consigo ter e que nem mesmo o doutor me dá: a visão rosa do mundo. Tem um pessimismo suave de quem espera o pior apenas porque deseja o melhor. Para si mesma e para os outros. E ela está cá hoje também.
- Ah, mas onde está essa parceira deste duo? - brincou.
- Esteve aqui! Tomou um café, foi dar uma volta pelo parque e prometeu que voltava para uma conversa. – incrível como conseguia manter a conversa enquanto atendia os outros clientes com esmero.
- Não me digas que é uma mulher com a minha idade, que hoje está com um vestido preto sem costas? – perguntou, não tendo dúvida que a resposta seria afirmativa.
- Exacto. Já a conhece? – sorriu William.
- Confesso que até agora só lhe conheci as costas. – riu.
- Ah, ah! Bem sei que se deve conhecer as pessoas aos poucos, mas isso é exagero. – riram em conjunto.
- Creio que é a primeira vez que a vejo aqui.
- Tenho a certeza disso. Não me esqueceria de ter os dois aqui ao mesmo tempo. Permita-me que diga que tenho sido o confidente de ambos. Têm os dois os problemas normais de casados, coisa que já fui e por isso sei do que falo. E de resto, toda a gente sabe que os barmen têm que saber ouvir tão bem como servir bebidas. – confessou.
- De facto, as nossas conversas tem sido um belo suporte a minha sanidade mental. E desculpa se te tenho aborrecido. – respondeu.
- Não tem nada que pedir desculpa. Há pessoas que ouço por cortesia, mas a si ouço por prazer. – via-se que estava a ser sincero.
- Meu bom amigo, ouvir isso é fantástico! Até porque isto não está fácil. – disse com uma sombra no olhar.
- Claro, o senhor doutor só aqui me aparece quando não está bem. – riu, abrindo um sorriso de conforto.
- Ah, ah! És o meu psiquiatra. Esta cadeira é o divã. E a medicação é esta bela bebida que me serves. – era impossivel estar triste na presença daquela personagem terapêutica.
- Mas diga lá o que o apoquenta. – assumindo a pose de quem vai ouvir.
- O mesmo, mas diferente. Precisei de uma pausa da realidade do dia a dia, mas não sei se desta vez não estou a pôr tudo em causa. Tenho tudo o que preciso para ser feliz e ainda assim sinto que falta algo. Falta emoção, falta novidade…
- Hummm… - assentiu, sabendo que ainda não era tempo de falar.
- Amo a minha mulher, disso não tenho dúvidas. Mas não sei se é o suficiente. – concluiu.
- Lembra-se das razões porque casou? – era uma pergunta que adivinhava muitas outras.
- Claro que sim. Amava-a. Queria ter uma vida com ela. Queria ter filhos com ela. Ela bastava-me. Só a via a ela. - estava tudo nítido na sua cabeça.
- Vejo que se lembra de tudo. Pois bem, então o que mudou? Deseja outra pessoa? – começava a encurralá-lo.
- Não sei. Acho que desejo algo novo. Por exemplo, aquele mulher que falaste há pouco. Só a vi de costas na piscina e ao jantar, mas senti desejo em conhecê-la. – as confissões surgiam naturalmente.
- Sem lhe ver o rosto. – constatou, sem nada perguntar – Meu caro amigo, essa ânsia de algo novo não é estranha. – sentia que o barman embalava agora – Essa mesma mulher de que fala está na mesma fase. Um casamento longo, vivido, bom. Tudo parece perfeito, mas falta algo. É a rotina que se instala. Esse bicho-da-madeira das relações. Tem de se lutar contra ele. Essas pausas que o senhor e essa mesma senhora fazem não chega. É uma fuga, não uma solução. As coisas não se resolvem com pausas ou tempos para pensar. Isso são adiamentos. Necessários mas que nada resolvem. Há quanto tempo o doutor e a sua esposa não fazem umas férias sozinhos? – perguntou certeiro.
- Há quinze anos! Desde que nasceu o primeiro filho. – respondeu, apercebendo-se do ponto onde William queria chegar.
- Pois! Bem sei da importância dos filhos num casamento, mas as pessoas não se podem esquecer de que é preciso alimentar a relação a dois. Se a mulher que viu na piscina lhe suscitou algo, pode não ter sido aquela mulher específica, mas por ser alguém diferente.
- Talvez, mas ela tinha alguma coisa que me chamou a atenção.
- Meu caro, apenas lhe viu as costas. Posso-lhe dizer que é uma bela mulher para ser descoberta. Gostaria de descobri-la? – sorriu.
- William, eu não vim aqui para trair a minha mulher. Vim para me encontrar. Para descobrir o que se passa comigo. O que se passa connosco!
- De acordo, mas acredito que descobrindo essa mulher mistério, lhe seja mais fácil saber o que sente. Seja como for, pouso aqui ao seu lado a bebida que ela bebe, porque ela vem aí. – enquanto dizia isto, sorria a alguém que se aproximava – Agora é convosco…
O Francisco escreve "muita" bem ^-^
ResponderEliminarbeijinhos
Socorro, mais não...
ResponderEliminarJá cá venho há muito tempo, mas nunca comentei.
ResponderEliminarCom coragem :-p resolvo iniciar-me.
Tenho andado a espreitar estes desafios.
Gostei do 1.º capítulo do Zénite e gostei do Francisco Del Mundo. Espero não "estragar" o "final" mas parece-me que a mulher das "costas" é a mulher do "Senhor Doutor"...
Parabéns.
:-)
Nunca se sabe o futuro... LOL!!! ;D
ResponderEliminarNunca por aqui tinha passado; mas, ao passar hoje, deparei-me com um post que apesar de saber ser interessante não tenho condições mentais para o ler.Voltarei assim que me encontrar apta e, aí sim, lerei este e outros.
ResponderEliminarDesculpa.
Bjt
Bemmmmmmmm...agora ficou aqui um bichinho!!! hehehehehehe
ResponderEliminarQue mistério!!!Quem será???Estou morta por saber!!!hehehehehehe
Fantático!!! Mais uma vez!!!
Mais uma vez..mil brijinhos para ti Nanny!
Cleo
estou a adorar ler, fabuloso mesmo!!!!
ResponderEliminarum verdadeiro romance!
um beijo meu
mais um conto espectacular...
ResponderEliminarbeijo vagabundo
Desculpa, não tenho andado muito por cá... não tem sido possível, nem a disposição tem sido muita, mas deixo aqui um convite...
ResponderEliminarEsta nossa nobre tradição das vindimas mantém-se.
O Cortejo, inspirado no tema "História, Vinhos e Tradições de Palmela", a Eleição da Rainha, a Pisa da Uva e a Benção do 1º Mosto, são os pontos altos desta festa.
Mas temos outros pontos altos.
Há muitos produtos gastronómicos que fazem as delícias dos visitantes, fogaças, sopa caramela, pão, queijo e claro, há muito bom vinho tinto, branco e moscatel para provar...
Venham à festa.
Bem, peço desculpa por vir aqui meter o bedelho...:D Os comments tem sido demasiado elogiosos. Agradeço a ti, Nanny, por me teres dado este belo tema e a todos os teus leitores por terem a paciência de me ler.:D
ResponderEliminarA música da Sade é uma escolha fabulosa.. Agora se puder escolher a música para o capítulo final, diz-me porque já sei qual é...:D
Beijo enorme
É preciso sorrir á vida...tudo irá parecer bem melhor!...
ResponderEliminarVem dançar comigo!... :)))
Sem palavras...mais uma vez fantástico!!
ResponderEliminarTens toda a razão Nanny!
Este desafio ainda vai fazer correr muita tinta, e eu não vou perder pitada...venha o próximo!
E muitos parabéns aos autores!
Beijinhos
Bela história...que será previsivel...penso eu (risos)
ResponderEliminarum abraço
brisa de palavras
Maria
ResponderEliminar:P
Talvez não te lembres... mas foste tu que em tempos me chamaste a atenção para este Francisco del Mundo :DDD
Beijinhos
Migvic
ResponderEliminarTem lá calma!
Eu vou escrevendo outras coisas pelo meio, mas estou a adorar ver as opiniões e as versões masculinas deste tema... tu não te pronunciaste... porque será? lol
Beijoca
Fugidia
ResponderEliminarObrigada pelas visitas e pela confissão... podes sempre comentar ou não, estás à vontade!
Quer o Zénite quer o Francisco escreveram belas peças... mas acredito que outros haverá com igual talento!
Quanto ao final... não desvendo, mas amanhã já cá deve estar :P
Beijinhos e volta sempre que quiseres
Just a girl
ResponderEliminarYap :DDD
Obrigada pela visita
Beijinho da gata
Isabel
ResponderEliminarEspero que o teu estado de espírito melhore, sinceramente!
Volta quando quiseres e quando te apetecer, que esta portinha está sempre aberta. Obrigada pela visita!
Beijinhos
Adorei... mas quero saber o final!!
ResponderEliminarSe bem que já desconfio...
um beijinho gatinha
ps: café e william lawsons?
:-))
ups esqueci de assinar, cabeça a minha... mas acho que já sabes quem sou!
ResponderEliminarjust_me
bjs**
Cleo
ResponderEliminarhihihi
O Francisco revelou-se um mestre do suspense... qual Ellery Queen!?! lol
Está deveras muito interessante... ;-)
Beijinhos
Rute
ResponderEliminarO Francisco, além de romântico é um romancista... :D
O 2º episódios segue dentro de momentos :DDD
Beijinho
Poeta
ResponderEliminarPor este andar, outros se seguirão!
Beijinhos, poeta
A Saborear
ResponderEliminarTentarei lá passar, prometo!
Sei que é festa rija, que já lá fui um ano! Grandes bubas... eheheh
Beijinhos e que esse humor arrebite :D
Francisco
ResponderEliminarModéstia a mais é feio! lol
O tema não fui eu que o criei, mas a Marta, eu apenas aproveitei o ensejo para vos desafiar, a vós mentes masculinas que gosto de ler... comprovadamente valeu a pena! :DDD
Já te respondi :P - escolhe a música, escolhe as fotos... então, se elas são para acompanhar o teu texto, quem melhor que tu mas o fazer?!
Beijinhos agradecidos
woman feelings
ResponderEliminarEstou certa que sim!
Sorrir é a melhor solução!
J.C.
ResponderEliminarEstá a revelar-se interessantíssimo, nunca pensei conseguir que tantos aderissem e de forma tão empenhada!
Beijinhos e continua a lê-los
Brisa das palavras
ResponderEliminarO Francisco não o fez dividido em 2, confesso! Fui eu que o parti, para não ficar muito longo... assim fica o incentivo para continuar a lê-lo... e o Francisco merece!
Beijinho
Just me
ResponderEliminarLOLOL
Sabes que me lembrei logo de ti assim que li este texto?
Tenho de conhecer este magnífico barman que, tal como eu, é admirador do William Lawsons... que tu tão bem me servias!
:DDD
Bejinhos, linda
Confesso que não tive tempo de ler este desafio desde o início,e agora já está enormeeee,logo já não o vou fazer.mas espero aqui por ti gata linda,para te ler mais tarde..beijo grande,sim?
ResponderEliminarfranciscodelmundo, parabéns pela estória, com a escrita fantástica a que já nos habituaste...
ResponderEliminarfico a espera do próximo capitulo
bjs e abraços
Vertigo
ResponderEliminar:P
Agora já vai longo, sim, mas podes ir lendo os novos contributos :P
Beijinhos
Gomez
ResponderEliminarAgradeço-te em nome do Francisco, que ele é um rapaz muito tímido :P ... não responde a ninguém... lol
Um beijinho
Parabens Francisco..para kuando um livro hein?
ResponderEliminarA tua escrita prende....agora vou passar a vir cá a este cantinho.beijinho para os dois
Paula
Paula
ResponderEliminarConcordo contigo!
Francisco, toca a escrever mais contos :-)
Obrigada pela visita