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– Agora é convosco…
Ela sentou-se a seu lado e olharam-se. Apesar da surpresa, o mesmo sorriso cúmplice assomou os lábios de ambos. Ele recuou muitos anos e voltou a sentir-se sedutor. A saber que botões carregar para fazer uma mulher sorrir.
- Boa noite! – disse calmamente, com o coração disparado.
- Boa noite! – respondeu ela, numa voz doce.
- O William deixou aqui a sua bebida. Parece que é a sua favorita.
- De facto, ele sabe o que gosto. – tinha uma timidez genuina, de quem foi apanhada.
- Calculo então que venha para cá há algum tempo. – queria ir devagar, aproveitando o momento.
- Já venho há vários anos. Venho descansar. Descobri o cartão do hotel no bolso do casaco do meu marido e resolvi experimentar.
- Ah, é casada? – estava divertido.
- Sou. Mas o senhor já sabia isso. – ela começava a pôr as garras de fora – Estou certa que viu a minha aliança. Estou certa que o empregado no restaurante ou o William lhe disseram. E estou certa porque o vi nos seus olhos quando me sentei a seu lado. – a voz dela estava segura.
- Está a presumir várias coisas. Será que está assim tão certa? – gostava de a ver assim confiante.
- Aprende-se a conhecer os homens. - afiançou.
- Todos? Seremos todos iguais? O William disse-me que era pessimista. Será que nos vê todos como maus da fita? – arriscou.
- Afinal sempre falou de mim com o William. – tinha um sorriso de triunfo.
- Apenas enquanto os restantes 50% daquilo a que o William chamou “os seus clientes favoritos” – não era ainda tempo de ela ganhar.
- Hummm… Vou acreditar.
- Mas não me respondeu. Seremos todos iguais? – estava a esticar a corda, sabia-o.
- Tempos houve em que não queria saber dos homens. Até a pessoa que aprendi a amar passou por muito antes de me conquistar. – falava sem rodeios.
- Aprende-se a amar? – perguntou.
- Claro que sim. Quando se é magoada, as nossas defesas demoram a soltar-se. Mas depois começa a ver-se que alguém nos conquista quando fala, quando beija, quando está ausente. – explicou.
- Ausente? – estava fascinado a ouvi-la.
- Sobretudo quando está ausente. Aquele provérbio “Longe da vista, longe do coração” é para quem não ama. É quando não se tem a pessoa à frente e nos faz falta que descobrimos que amamos. Sem querer ou por querer, ele deu-me o espaço suficiente para descobrir o que sentia.
- Ele ficou em espera? - sorriu.
- Sim, mesmo não sabendo o que poderia acontecer.
- Teve sorte. – afirmou.
- Eu ou ele? – perguntou, soltando uma gargalhada contagiante.
- Ah, ah! Os dois. Ele porque esperou e correu bem, e você porque pô-lo em espera e ele não fugiu. – riu com ela.
- Quem ama, não foge.
- Não? Então já não o ama? Porque estar aqui é uma fuga. – decidiu passar ao ataque.
- Talvez seja. – pensou uns instantes – Uma fuga, não o deixar de o amar. – havia certeza na voz.
- Então, ama-o? – confrontou-a.
- Disso tenho a certeza. O que tinha dúvidas era se o nosso futuro era conjunto.
- Já pensou em ser infiel? – descarado.
- Nunca. Ele basta-me e gosto de pensar que lhe basto a ele. Não creio que ele seja do tipo infiel. Você é? – quis desviar a conversa dela.
- Sou do tipo fiel. Mas ao vê-la, confesso que senti algo que já não sentia há muito. Foi o relembrar de sentimentos escondidos. – já não havia volta atrás na conversa.
- Ai foi? Mas em que momento? É que pode considerar-se traição. – ela estava divertida.
- Confesso que só a vi de costas na piscina e no restaurante. Nessa altura era só um mistério. O William foi descrevendo-a com enormes elogios e fiquei curioso. Quando a vi, fiquei enfeitiçado.
- Enfeitiçado? Uma palavra que não ouvia há muito tempo. Tinha saudades dela. – o olhar dela ficou embaciado.
- Mas é isso que sinto. Não costumo esconder o que sinto, e tenho uma vontade de estar consigo. De fazer amor, de dormir, de acordar…
- Páre. Não sei como reagir. – vacilou.
- Diga-me o que sente.
- Vontade de me perder. – confessou ela.
- Há muito tempo que me sentia apático, mas chegou o momento de voltar e ser eu mesmo. Quer ir para o meu quarto ou para o seu? – fez a pergunta com o coração a mil, receando a reacção.
- Nenhum. – havia um sorriso no olhar – Emocionaste-me. Vamos para casa, meu bem.
- Meu amor, sinto que te reencontrei.
Levantaram-se e saíram. William sorriu. Já tinha descoberto há muitos anos que seriam casados um com o outro. Segredos de um barman…