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2º - Dia mais feliz da minha vida: Cada um em que me sinto bem comigo e com o Mundo.
3º - Manias: Combinar o relógio com a restante roupa.
4º - Filme preferido: "Providence"
5º - Poeta preferido: Não tenho hábito de ler poesia, mas gosto muito de Florbela Espanca.
6º - Comida preferida: Ai tantas! Polvo, Bacalhau, Farinheira… ai! Sei Lá!
7º - Sou... Um coração de manteiga.
8º - Viagem de sonho: Uma ilha tropical
9º - Gosto de... Tudo o que me dá prazer.
Para não estar a “massacrar” muitos, passo ambos os desafios a:
Bekas (isto de ser novo por cá não te livra)
Brutal (ele sabe porquê)
Francisco del Mundo (toca a escrever menino)
Pedaços de Mim (para nos mostrar mais uns pedaços)
Vertigo (a ver se lhe passam as vertigens)
Como vou estar fora a semana toda, saltando telhadinhos, claro... e mesmo que me queiram espancar e apedrejar não estarei cá para que o façam... hihihi... deixo-vos, ainda, com o 3º episódio da resposta do Zénite ao desafio "A vez dele".
Assim não se podem queixar que não tiveram o que ler :P
Amores Virtuais
III
Vida em Comum
Sentaram-se a uma mesa do snack-bar. Eram maiores os silêncios dos lábios que os dos olhos e das mãos. As palavras, que não eram muito importantes naqueles momentos sublimes, podiam esperar. Já haviam trocado milhares delas nos e-mails.
Pedro avançou a mão sobre o tampo da mesa, até tocar os dedos de Leonor, que apertou ligeiramente, num afago. Leonor correspondeu, cingindo-lhe o polegar com o seu, e fixou-o nos olhos enquanto esboçava um sorriso cúmplice.
Pronunciou, com doçura, somente duas palavras: « Oh, Pedro!» «Vou amar-te para sempre, Leonor!» - disse ele. Saíram do snack de mãos dadas, e percorreram a exposição de fotografia com a alegria estampada nos rostos. De vez em quando, trocavam impressões sobre uma ou outra foto, mas estavam tão absortos na peculiaridade do encontro, que era mais o tempo em que se olhavam mutuamente e trocavam sorrisos de felicidade, que aqueles em que observavam as fotos, apesar de tanto as apreciarem.
Num recanto mais isolado, beijaram-se. Foi um beijo demorado, como querendo ambos saciar-se das sedes de lábios por que passaram nas longas madrugadas, frente à frieza dos monitores de vídeo carregados de promessas que se foram acumulando, sem cumprimento, ao longo dos meses. Ambos reconheciam que o beijo, mais do que uma expressão de amor, é uma expressão de vida. Sem beijos o corpo e a alma estiolam em solidão e acabam por morrer.
Chegaram à conclusão que era aquele o dia do encontro com a Vida, e que não o podiam deixar fugir. Pouco depois entravam no carro de Pedro, com destino ao Cabo Espichel. A tarde, luminosa e quente, apesar de se estar a meio de Março, era convidativa.
Percorreram a estrada que passa pelo cume da Serra da Arrábida, onde pararam para desfrutar o maravilhoso panorama que abrange o azul dos estuários do Tejo e do Sado, bem como grande parte das cidades de Lisboa e Setúbal, que alvejavam ao longe, e ainda toda a faixa costeira que se estende de Tróia a Sines.
Claro que pararam, mais para se beijarem, que para observar a paisagem. Mas também foi por isso. A tarde, ainda morna, abeirava-se das sete horas quando o carro entrou no terreiro rectangular, limitado a ocidente pela capela de Nossa Senhora do Cabo e flanqueado pelo casario que em tempos idos serviu de albergue aos romeiros que iam em peregrinação àquele pequeno santuário.
Embora situada num ermo, a igreja tinha a porta principal aberta naquela tarde. Como habitualmente, encontrava-se deserta.
Leonor e Pedro entraram. Apesar da penumbra que o cair da tarde ia instalando a pouco e pouco pelos recantos do templo, a luz que se coava através dos vitrais e das janelas superiores era ainda suficiente para lhes permitir apreciarem a traça majestosa de todo o interior. O altar-mor e os oito altares laterais, todos eles em estilo barroco, flamejavam em cores harmoniosas. O tecto da nave, bem como as paredes revestidas a mármore branco e preto da Arrábida, estavam cobertos de excelentes pinturas, também barrocas. A imagem de Nª Sª da Pedra da Mua (1) esplendia em seu nicho de mármore primorosamente trabalhado.
Respirava-se no santuário a quietude e a serenidade que só os ascetas experimentam em seus eremitérios. Leonor benzeu-se e ajoelhou-se no genuflexório. Murmurava, decerto, uma oração. Ou seria uma prece? Pedro, de pé, e com a ternura estampada no rosto, observava-a em silêncio.
Foi então que disse: «Vamos, Leonor, o Sol prepara-se para mergulhar nos reinos de Neptuno dentro de meia hora.» Leonor sorriu-lhe e deu-lhe a mão.
Dirigiram-se para as escarpadas falésias que bordejam o Cabo e sentaram-se num dos paredões ali colocados para dar alguma protecção aos visitantes daqueles lugares tão belos quanto inóspitos e perigosos.
O Sol, qual maçã de fogo colhida nos hespéricos jardins, franjava de mil cambiantes de cor e luz os céus do ocaso. Um rasto luminoso de ouro vermelho serpejava desde o Sol até à espuma que, alvacenta, dançava na base dos alcantilados rochedos. Ouviu-se o alegre trino dum rouxinol, enquanto uma gaivota silenciosa e branca sobrevoava o casal. A aragem galerna trazia consigo o aroma agridoce da maré, e segredava doces murmúrios aos ouvidos dos enamorados.
O Sol já desaparecera por detrás da misteriosa Atlântida, havia cerca de meia hora. Escurecia e arrefecia. Leonor sentiu um arrepio de frio. Lesto, Pedro correu ao carro e trouxe de lá o casaco de cabedal, que lhe colocou sobre os ombros.
Ela agradeceu e pousou a sua cabeça sobre os joelhos de Pedro, enquanto este lhe beijava amiúde ora lábios ora o rosto. Leonor correspondia aos beijos, quando, com voz de surpresa lhe disse: «Olha, Pedro, como está linda a Lua!»
A Lua, no seu plenilúnio, acabava de despontar sobre uma das torres da Igreja, cobrindo o pequeno promontório onde se encontravam com uma toalha de mel. Ou porque a Lua e o mel que derramava sobre a terra influenciaram Pedro, ou porque este já tinha a pergunta formulada na sua mente, o certo é que Leonor e o silêncio das rochas onde se sentavam ouviram as seguintes palavras, pronunciadas na voz quente e pausada de Pedro:
«Leonor, amo-te! Queres casar comigo?»
Decorreram breves segundos, que a Pedro pareceram horas, até que Leonor, na sua voz doce e maviosa, respondeu:
«Amo-te, Pedro! Não casarei, mas quero viver contigo. Se possível, para sempre! Aceitas?»
E, na paz soberana que o mel da Lua e a "Casa" da Senhora do Cabo derramavam sobre as cabeças dos dois namorados "virtuais", tendo por testemunhos a Terra firme e o fluido Atlântico, foi celebrado, com um beijo, um pacto de Amor e de Vida em Comum, porventura mais forte que os celebrados nas complicadas instituições dos homens.
(1)Andam envoltas em lendas poéticas as festas de Nossa Senhora do Cabo, cujo nome original, Nª Sª da Pedra da Mua, se deve a umas marcas que apareceram sobre o chão rochoso. Duas "testemunhas", dos tempos de D.Afonso III, diziam ser as marcas das patas da mula em que seguia Nossa Senhora, que eles "viram" montada na dita mula. Em 1970 descobriu-se que as marcas atribuídas à mula eram pegadas de dinossauros. O que inventa a Ciência para não deixar singrar uma lenda tão linda! Ao lado da Igreja está uma ermida muito pequena - talvez a área coberta não exceda uma dúzia de metros quadrados - , que terá sido construída no século XV.
Mas reais, reais, são os amores de Pedro e Leonor, que começaram por ser "virtuais", como vimos.
Sei Lá!
Ainda se lembrarão da história que o Zénite começou a contar-nos aqui.
Regressado das férias enviou-me a sua continuação, que tem 2 episódios. Espero que gostem e que continem agarrados à história...